lunes, 3 de septiembre de 2007

Um conto... varios finais.

Quem não acredita que garotos maus podem ter gestos bons? Ou vice-versa? Claro que podem. Vejam só Adam. Ele resolve as coisas, embora a seu jeito. Isto não é uma crítica, pois as cosas se ajeitam, mas sempre ao seu particular modo. Se os mais chegados a ele soubessem, talvez o recriminassem, ou até, com medo, o trancafiassem em algum orfanato, centro para menores delinqüentes ou, até mesmo, algum lugar para dementes (manicômio!!!). Mas isso porque eles só saberiam a verdade pela metade, pois a outra parte interessada, a dos que tiveram seu problema resolvido, a estes pouco importariam os métodos, pois Adam, mesmo sem eles o conhecera, solucionara a questão cortando todo o mal pela raiz. O garoto de boné laranja (Adam, o controvertido) passeava como de costume pelas redondezas. Observava aqui e ali, apenas imaginando... Ninguém ligava; ele tinha menos de um metro, sardas inofensivas e um boné de cor engraçada. Adam era isso, menos da metade de uma pessoa, com um jeito que representava menos do que um quarto desta mesma pessoa inofensiva. Mas, Adam escondia algo, que apenas ele sabia, por isso vigiava, enquanto caminhava atento.

Mas o Adam era um garoto gracioso –no seu planeta, porque ele não era humano-. E não compreendia por que a gente sempre ficava estranhada ao vê-lo. O Adam era em verdade lindo. As suas sardas davam-lhe o encanto especial dum homem maduro. Porque ele não era um menino. No seu planeta acontecia aquilo do que muitos gostaríamos: nascer velhos e morrer num orgasmo. Adam era um ser do planeta R-14 na plenitude da vida.

O que fazia Adam na terra? Ele tinha chegado num meteoro que aterrissou na Amazônia 50 anos atrás, e ficou ali com os velhos duma tribo antiga. O meteoro dava-lhe uma energia especial para que o seu desenvolvimento fosse o normal (para ele). Tudo corria muito bem, até que um dia, uma empresa multinacional soube do meteoro e ficou interessada na aquisição dele para oferecer “a fonte da eterna juventude” aos seus clientes que pagariam muito para serem cada vez mais jovens ao contato com o meteoro, que nem era tão grande. Foi assim como, num abrir e fechar de olhos, levaram-no até a cidade onde anunciaram em todos os meios essa custosa fonte que fazia os velhos novinhos.

Adam não podia permitir que isso acontecesse. Ele já parecia um rapaz, estava na plenitude da vida, mas não tinha vontade nenhuma de ficar assim para sempre. Gostava da vida na Amazônia, mas também sonhava com terminar a sua vida, num orgasmo que o fizera voltar ao seu planeta. Se ele não ficasse perto do meteoro, não poderia cumprir sua missão de voltar para casa e contar os segredos todos da vida na Amazônia. Da sabedoria dos (nossos) velhos que para eles eram novinhos, do nosso ciclo de vida às avessas. Ele não podia ficar na terra para sempre e ser um garoto. Foi por isso que resolveu mudar-se para a cidade. Ficar bem pertinho do meteoro. Mas a vida para um garoto sozinho na cidade não é fácil. Ele teve de entrar numa família e fazer que esqueceram tudo, que eles nunca tiveram filhos, e não só os pais, também os primos, tios e avôs. Fez que mudaram para uma casa nova frente ao meteoro.

Seria difícil ter essas doses necessárias (seis horas por dia) perto do meteoro. Na Amazônia dormia acima dele, mas agora isso era quase impossível porque “a fonte da juventude” foi tudo um sucesso e havia um listado de espera para os meses próximos. Somente podia ficar perto duas horas pela noite e sempre vigiava porque queria aproveitar até o último minuto que pudesse ter aceso ao meteoro. Menos minutos cada dia.

Não podia esperar mais, não. A situação era insuportável. Até agora teria de esperar o triplo do que ele tinha planejado, e no seu planeta não podiam esperá-lo mais, se as coisas seguissem assim, ele não encontraria ninguém quando voltasse a R-14. Precisava ficar dia e noite perto do meteoro e achou que isso somente seria possível voltando à Amazônia. Foi assim como entrou na mente de uma menina vizinha dele, do guarda de seguridade onde estava o meteoro e de um policial. Os quatro fizeram um plano para roubar a caminhonete da mamãe da menina (quem era divorciada e hipocondríaca e sentiu morrer quando não encontrou a sua caminhonete), que era grande demais para levar o meteoro. O policial estava encarregado de vigiar que ninguém apertasse ao meteoro. Essa noite entraram Adam e a menina com a caminhonete, o policia abriu o caminho direito ao meteoro.

O recorrido até a Amazônia era muito cumprido, mas dirigiram a noite toda. Para quando a cidade soube da desaparição do meteoro eles iam chegando ao seu destino.

Adam ainda não estava pronto para seguir o seu desenvolvimento, tinha de sumir a toda pessoa que soubesse do segredo. Foi assim que o guarda de seguridade, o policia e a menina ficaram debaixo do meteoro e não houve testemunha nenhuma. Então Adam subiu ao meteoro e ficou ali, os dias passaram lentamente. Em quanto se formava uma membrana viscosa e transparente, o corpo de Adam diminuiu, primeiro as suas células eram mais novas até que algumas sumiram e finalmente ficou só um zigoto. O meteoro explodiu e uma bolha elevou-se até o céu e sumiu. Chegou a R-14 no dia acordado.

Ninguém soube nunca de Adam. A vizinhança e a família esqueceram-se dele e do acontecido. As pessoas que utilizaram “a fonte da juventude” tornaram à sua idade real e somente tiveram lembranças de que a sua juventude foi ontem.

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